NOVO GOL X NOVO PALIO. E AGORA?
Não está fácil para ninguém. Que
dirá para o Gol, que em 2014, após 27 anos estacionado no topo do ranking dos
carros mais emplacados do Brasil, acabou destronado pelo Palio. Segundo a
Fenabrave, o placar foi de 183 741 unidades emplacadas ante 183 356. Os fãs da
Volks até tentaram argumentar: "São duas gerações do Palio [novo Palio e
Fire] contra uma do Gol, já que o G4 morreu em 2013". Mas, até então, a
própria VW se valia da mesma estratégia. Protesto negado! Por que ela mudou os
planos? Simples: adaptar ABS e airbags no Gol G4, itens obrigatórios desde o
ano passado, sairia mais caro que nomear um novo modelo para que pudesse
continuar brigando entre os populares de entrada. E foi assim que nasceu o Up!.
Mas voltemos aos eternos rivais.
Para entender melhor a rixa, é preciso separar o joio do trigo. Para isso,
focamos nos modelos intermediários: Essence no Palio e Comfortline no Gol. Por
não ter a versão na sua frota de imprensa, a Volks enviou para os testes um
Highline, topo de linha, que é mecanicamente igual. Mas toda a análise de preço
e itens de série toma por base a Comfortline.
Na avaliação do acabamento, os dois são vitimados pelo DNA. O desenho simplório
do painel confere ao Gol um ambiente monótono, ainda que com acabamento (corte
e encaixe das peças plásticas mais precisos) evidentemente melhor que o do
Palio.
Este, por
sua vez, tem decoração mais vibrante e jovial. Pena que os plásticos sejam
ricos em rebarbas, vãos e cantos vivos. Se as cabines empatam na qualidade
geral, na quantidade de equipamentos o Palio, como diz sua campanha, faz um
golaço.
Eles
custam quase o mesmo, R$ 44 869 no VW e R$ 44 210 no Fiat, mas só o Palio
oferece de série ar-condicionado, faróis de neblina, chave canivete com
controle remoto das travas das portas e luzes de leitura na dianteira, um time
de equipamentos que no Gol precisa ser convocado à parte, pois são
opcionais.
Esses
itens (e alguns outros) compõem o pacote que a Volks batizou de Urban completo,
que custa salgados R$ 6 050. Então prepare-se: um Gol Comfortline com tudo a
que se tem direito, inclusive pintura metálica (de R$ 1 227), chega aos R$ 52
137. Já o Palio
Essence
equivalente pode atingir R$ 49 049.
Mas, se a
régua niveladora for o preço do Gol completão, dá para rechear o Palio com
atrativos que só ele oferece, como piloto automático (R$ 210), airbags laterais
(R$ 1 723) e acionamento automático de faróis e limpadores de para-brisa (R$
894). Ainda assim, continua mais barato: R$ 51 876.
Sob o capô dos rivais, receitas parecidas: motor 1.6 flex de quatro cilindros
para ambos. O do Palio é o E.torQ, com 16 válvulas e 117/115 cv. O do Gol é o
MSI, com oito válvulas e 104/101 cv. Uma fonte ligada à VW garante que até 2017
o motor 16V de 120/110 cv que hoje equipa o Gol Rallye aposentará o 8V em todas
as versões. Em nossa pista de testes, porém, o Gol 1.6 8V se defendeu bem, com
números de aceleração e consumo próximos aos revelados pelo Palio.
Se os dois hatches imprimem números parecidos, a maneira como chegam a eles é
bem diferente. A suspensão do Palio, apesar de retrabalhada de maneira mais
intensa nesta geração, continua bem mais macia do que a do rival. Assim, ela
oferece bom nível de conforto e não deixa a carroceria saltar ao passar sobre
imperfeições. A inclinação um tanto excessiva é o lado ruim - sensação ampliada
pelos bancos de pouca sustentação nas bordas, tanto no assento como no encosto.
Mais firme, o Gol - e quem estiver nele - sofre na buraqueira de nossas ruas,
mas quando roda em asfalto bem-conservado oferece mais prazer ao dirigir. Seu
câmbio de curso mais curto do que o do Fiat acentua a esportividade.
O custo de vida dos dois hatches revela algumas discrepâncias. No pacote de
revisões até 60 000 km, o Palio cobra um preço 30% mais alto - R$ 3 088 ante R$
2 484. Na prática, o representante da Fiat é mais caro de manter em todas as
paradas de manutenção programada. Mas nem tudo são flores na rede VW. Como a
marca insiste em divulgar apenas o valor das peças e o tempo da mão de obra em
cada parada, sem o valor, o consumidor fica à mercê das concessionárias, que
cobram o quanto querem pelo serviço - e falamos isso com conhecimento de causa,
pois temos dois VW na frota de Longa Duração, o Up! e o Golf.
O troco do Palio é dado num ponto fraco do Gol: o seguro. Segundo a corretora
Segurar.com, enquanto a apólice para proteger o Volks sai por R$ 2 737, a do
Fiat fica em R$ 2096. Ou seja, aqui o Palio devolve, com algum troco, a diferença
do custo de manutenção e vence o confronto com uma vantagem sobre o Gol - tão
pequena quanto a que estabeleceu no ranking de vendas de 2014.
E a vitória?
Tão logo os números de vendas de 2014 foram totalizados, a Fiat passou a
veicular uma campanha para ressaltar o feito histórico."Para nós, foi um
golaço", dizia o filme publicitário, numa saudável provocação ao Gol. No
Facebook, a concessionária Motobrás, de Rio Grande (RS), tomou as dores da
Volkswagen e respondeu em tom de ironia: "De que adianta um golaço quando
o placar está 27 x 1?".
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